Monday, 13 February 2012

Terras indígenas invadidas: os guerreiros de Raoni fazem uma operação choque para alertar a opinião pública sobre a gravidade da situação (#Brasil) / Indigenous lands invaded: Raoni warriors carry out a direct action to alert public opinion about the seriousness of the situation (#Brazil)


Postado originalmente por Raoni.com em http://www.raoni.com/atualidade-280.php
Originally posted by Raoni.com at http://www.raoni.com/atualidade-280.php
Trazido a minha atenção por @ PersonalEscrito
Brought to my attention by @PersonalEscrito
(The English translation follows immediately below the Portuguese text)

O cacique kayapo Raoni e seu povo estão lutando há quase vinte anos contra a administração brasileira para a demarcação de uma faixa de terra de 200 kilómetros de comprimento que protege o acesso ao rio Xingu. A proteção desse território  ancestral e sagrado, cujo nome é Kapot Nhinore, foi a razão de uma importante coleta de fundos realizada por uma associação francesa em nome do Instituto Raoni em setembro de 2011.  Mas as invasões ilegais  se multiplicam no território, aumentando a tensão entre a população indígena e os invasores. Os fundos reunidos para sua causa não foram repassados, eRaoni e seu povo, abandonados pelas autoridades locais, enfrentam a situação com dificuldade... até quando ? A situação está ficando pior depois do último incidente. Esta mensagem é um grito de alarme para ser divulgado em larga escala.



" Estou determinado e combativo na luta contra a usina de Belo Monte, a luta para a demarcação de nosso território Kapot Nhinore, a luta para nossas florestas, nossos rios e os animais e do xingú. Desde muito tempo venho pedindo aos governos sucessivos a regularização desta situação, mas, apesar das promessas, eles não me ouvem, portanto venho solicitar sua ajuda para demarcar minha terra. Não deixem meu povo ser expulso de sua terra. Nós precisamos de vocês para conseguir esta demarcação e assegurar a permanência de meus guerreiros em volta de nosso território Kapot Nhinore até que a demarcação seja realizada.”
- Cacique Raoni Metuktire, sexta feira, dia 10 de feveireiro de 2012 - 


Faz quase 20 anos que o cacique Raoni, em nome de seu povo,  pede ao governo brasileiro a regularização por decreto do reconhecimento administrativo de um território ancestral “esquecido” na precedente demarcação das terras indígenas do Xingu (MT). É neste território que seu pai, sua mãe e seus ancestrais estão enterrados, uma terra onde nenhum outro homem viveu antes deles. É alí que ele cresceu, a beira do rio Xingu ameaçado pelos projetos de grandes hidrelétricas, como Belo Monte, situado rio abaixo da reserva kayapó. Esta zona interdita em teoria o acesso dos invasores ao rio e a floresta em volta, evitando uma devastação irremediável.
Era o caso há 20 anos, mas a falta evidente de vontade dos governos sucessivos para o reconhecimento legal de Kapot Nhinore como terra indígena, gerou uma situação explosiva.

Os geometros e agrimensores fizeram o trabalho e o dossiê completo está na Funai há anos, mas os Kayapós, cansados de esperar, tiveram que admitir que esta espera é uma estrátegia. Numerosos colonizadores (agricultores, fazendeiros, garimpeiros, pitoleiros...) se instalaram na zona, provocando deflorestação, poluição do rio e diminuição da caça. Raoni e seu povo, que faziam questão de respeitar o processo definido pela constituição brasileira, muito clara em relação aos direitos das populações indígenas, se sentem lesados e traidos.
Desesperado, Raoni solicitou a ajuda de organizações estrangeiras, dentre das quais, a Associação para a Floresta Virgem (AFV). Esta associação levou-o até a França em setembro de 2011 com o pretexto de uma “viagem medical privada”, mas foi na verdade para levantar fundos destinados à demarcação do território chamado Kapot Nhinore. Os intigadores deste projeto omitiram de precisar durante as apresentações públicas que o decreto presidencial autorizando a demarcação ainda não estava assinado pelo governo brasileiro e que precisava cumprir um demorado processo antes de poder começar o trabalho previo de medição. A primeira fase, muito cara, consiste na expropriação dos colonos e outros invasores, assim como a securização da zona. Mas sem vontade política real, esta etapa deverá ser muito demorada.

A busca de fundos para a medição e a balizagem de Kapot Nhinore, realizada pela AFV – em nome de Raoni e de seu instituto – foi bem sucedida : nem o público nem Raoni têm informações precisas á este respeito, mas segundo as indicações dadas por alguns membros da AFV, é possível estimar a pelo menos meio milhao de euros (ou Hum milhao e cento e quarenta mil réais) a arrecadação já feita (doações públicas ou privadas, mecenato de empresas, doação do ministério francês da cooperação...) No entanto, quatro meses e meio depois o inicio desta operação, o responsável administrativo do Instituto Raoni afirma que nenhum euro proveniente desta operação ainda chegou, apesar de Raoni, presidente do instituto, e outros responsáveis indígenas terem desejado que cada doação seja imediatamente transferida para que eles possam enfrentar as situações de urgência que surgem frequentemente.

Em consequência, o Instituo Raoni vive desde setembro de 2011 em situação precária para enfrentar as dificuldades, o dinheiro sendo importante nestas zonas isoladas. Assim, com falta de recursos financeiros, Raoni e seu celebre sobrinho Megaron, recentemente afastado pela Funai do cargo que ele ocupava, não puderam ir até Brasilia para defender sua causa e tampouco puderam iniciar os processos de expropriação e demarcação das terras. A situação é absurda : apesar das importantes doações atribuidas, o Instituto Raoni é obrigado a apelar para a generosidade dos militantes para enfrentar as urgências e os imprevistos. Estas coletas são demoradas e difíceis de ser realizadas enquanto as crises sofridas pelos indígenas necessitam uma grande reatividade. Esta situação deixa Raoni e seu povo num estado de grande vulnerabilidade para proteger seu território.

No dia 29 de janeiro de 2012, uns cinquenta homens – 22 Kayapós Mebengokre e uns 30 Jurunas – decidem ir no território Kapot Nhinore para ocupar uma parcela tomada ilegalmente por pistoleiros. Os Kayapós viajaram por terra num caminhão oferecido ao Instituto Raoni pela Funai em 2010, enquanto os Jurunas iam pelo rio. O objetivo desta operação é de alertar a opinião pública brasileira sobre a situação e de reiniciar os processos de reconhecimento legal e de demarcação da terra, parados há anos. Uma vez no território Kapot Nhinore, os indígenas exigiram a vinda da policia federal para obrigar o governo á reconhecer oficialmente a presença de colonos nesta zona proibida.

O governo não atendeu este apelo, e os cinquenta homens invadiram no dia 6 de feveireiro um albergue afiliado à uma fazenda ilegal, cujo proprietário foi expulso e condenado pela Funai em 2010, e o material  (geradores, barcos...) confiscado. As instalações ainda hoje são usadas por homens armados.
A intervenção dos indígenas se deu sem a presença dos invasores, não teve então confronto. Durante a volta do grupo indígena até a aldeia juruna de Pastana, uma trincheira recente estava barrando a estrada e os obrigou a percorrer os 7 kilómetros restantes á pé. No inicio da noite, tiros foram ouvidos assim como o barulho de uma explosão e de motocicletas, logo seguidos por uma nuvem de fumaça. Na manhã do dia 7 de feveireiro, eles constataram que o veículo tinha sido destruido durante a noite por colonos armados. A policia federal, chamada pelos indios para constatar os fatos e intervir, decidiu não comparecer, apesar do risque de confronto violento. Os pistoleiros  chamaram em reforço elementos corruptos da policia militar. Inclusive, estes elementos surraram na sexta feira dia 10 de feveireiro um Juruna de trinta anos chamado Kaya Yudja.
Para securizar a área, o Instituto Raoni prevê mandar reforços. Mas não pode pagar o aluguel de um caminhão nem o combustível. Um novo apelo à generosidade é feito. Cinquenta guerreiros kayapós já estão na área desde os incidentes, e muitos outros estão a caminho. Nesta situação muito tensa, pela qual podemos constatar que uma zona protegida do território brasileiro esta intencionalmente abandonada ao não-direito, Raoni não vê outra solução senão ir pessoalmente na área para tenter evitar um banho de sangue. Sua ida o colocará em perigo de vida, e esta situação que poderia ser evitada se cada um assumisse suas responsabilidades  nos choca e nos indigna.
Nós informaremos do desenrolar da situação.
Uma mensagem da associação Planeta Amazônia (Planète Amazone), feito em Paris no dia 10 de feveireiro de 2012.
Un document émis par les Indiens réclamant le soutien de la police fédérale brésilienne, appel resté sans réponse.

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The Kayapó chief Raoni and his people have struggled for almost twenty years against the Brazilian government for the demarcation of a strip of land 200 kilometers long, which protects access to the Xingu River. The protection of sacred ancestral lands, named kapot Nhinore, was the basis of an important collection of funds held by an association on behalf of the French Institute Raoni in September 2011. But the illegal invasions are increasing in the area, increasing the tension between the indigenous population and the invaders. The funds raised for their cause were not delivered, Chief Raoni and his people, abandoned by local authorities, faced with a difficult situation ... until when? The situation is getting worse after the last incident. This message is a cry of alarm to be released on a large scale.

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"I am determined and combative in the fight against Belo Monte, the struggle for the demarcation of our territory kapot Nhinore, the fight for our forests, our rivers and wildlife and the Xingu. For a long time I have been urging successive governments to regularize this situation, but, despite promises they cannot hear me, so I come to request your help to demarcate my land. Do not let my people be expelled from their land. We need you to get this demarcation completed and ensure the permanence of my warriors around our territory kapot Nhinore until demarcation is has been implemented. "

- Chief Raoni Metuktire, Friday, 10th of feveireiro 2012 -


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It's been almost 20 years that Chief Raoni, on behalf of his people, is asking the Brazilian government to regulate by decree of the official recognition of the ancestral territory "forgotten" in the previous demarcation of indigenous lands in the Xingu (MT). It is this territory where his father, his mother and his ancestors are buried, a land where no man lived before them. It is there that he grew up, the river Xingu threatened by large hydro projects, like Belo Monte, located downstream of the Kayapo reservation. This forbidden zone in theory access the invaders to the river and surrounding forest, avoiding irreparable devastation.

This was the case 20 years ago, but the obvious lack of willingness of successive governments for the legal recognition of indigenous land as kapot Nhinore has generated an explosive situation.


The surveyors Surveyors and did the work and completed a dossier on Funai years ago, but the Kayapó, tired of waiting, had to admit that this waiting is a strategy. Many settlers (farmers, ranchers, miners, pitoleiros ...) settled in the area, causing deforestation, river pollution and reduction of hunting. Monteiro and his people, who were keen to respect the process defined by the Brazilian constitution, very clear on the rights of indigenous peoples, feel betrayed and violated.


Desperately, Raoni enlisted the help of foreign organizations, among which, the Association for the Virgin Forest (AFV). This association brought him to France in September 2011 under the pretext of a "private medical travel," but was actually to raise funds for the demarcation of the territory called kapot Nhinore. The intigadores omitted from this project need during the public presentations that the presidential decree authorizing the demarcation was not signed by the Brazilian government and needed to be completed in a lengthy process before work to demarcate the territory could begin. The first phase, very expensive, consists of expropriation of settlers and other intruders, as well as the securing zone. But without real political will, this step should be very time consuming.


The search for funds for the measurement and buoying of kapot Nhinore held by AFV - on behalf of Monteiro and his institute - has been successful: neither the public nor Raoni will have accurate information about it, but according to the indications given by some members of AFV it is possible to estimate at least half a million euros (one million one hundred and forty thousand reais) have been raised (through public or private donations, business sponsorship, donation of the French Ministry of Cooperation ...) However , Raoni stated that four and a half months after the beginning of this operation, the administrative officer of the Institute, no euro have come from this operation, although Monteiro, president of the institute, and other officials have indicated that each donation is immediately transferred to them as they may face emergency situations that arise frequently.


Consequently, the Raoni Institute Raoni, which has existed since September 2011, is in a precarious position; the money is important in these isolated areas. Thus, lack of financial resources, Raoni Megaron and his famous nephew, were recently removed from office by Funai he held, and could not go to Brasilia to defend their cause, nor could they begin the process of expropriation and land demarcation. The situation is absurd: despite large donations attributed the Raoni Institute is obliged to appeal to the generosity of the militants to meet emergencies and unforeseen. These collections are time consuming and difficult to perform while the crises suffered by indigenous people needs a greater reactivity. This leaves Raoni and his people in a state of great vulnerability to protect their territory. On January 29, 2012, fifty men - 22 and about 30 Kayapo Mebengokre Jurunas - decided to go into kapot Nhinore territory to occupy a portion taken unlawfully by gunmen. The Kayapo traveled overland in a truck provided by the Raoni Funai Institute in 2010, while the Jurunas went by the river. The aim of this operation was to alert the Brazilian public opinion on the situation and restart the process of legal recognition and demarcation of land, standing for years. Once in the territory kapot Nhinore, the Indians demanded the arrival of the police to force the federal government will officially recognize the presence of settlers in the area prohibited.


The government did not answer this call, and fifty men invaded on February 6 a hostel affiliated with an illegal farm, whose owner was banned and condemned by FUNAI in 2010, and equipment (generators, boats ...) confiscated. The facilities are still used by armed men. The intervention of the natives took place without the presence of the invaders, did not have confrontation. During the return of the indigenous group to the village of Pastana Juruna, a recent trench was barring the road and forced to walk the remaining seven kilometers on foot. In the early evening, shots were heard as the sound of an explosion and motorcycles, soon followed by a cloud of smoke. On the morning of February 7, they found that the vehicle was destroyed overnight by armed settlers. The federal police, called by the Indians to verify facts and to intervene, decided not to attend, despite the risk of violent confrontation. The gunmen called for strengthening the corrupt elements of the military police. Also, forces beat a thirty year old Juruna named on Friday February 10th of Juruna thirty years named Yudjá Kaya.


To secure the area, the Raoni Institute sent reinforcements. But they cannot afford to rent a truck or fuel. A new call to generosity has been sent out. Fifty Kayapo warriors are already in the area since the incidents, and many others are on their way. In this very tense situation, in which we can see that a protected area of
​​the Brazilian territory is intentionally abandoned by the law, Raoni sees no other option but to go in person to avoid a bloodbath. His trip endangers his life, and this situation could be avoided if each party assumes their responsibilities.

Updates will be provided as the situation progresses.


- A message from the association Amazon Planet (Planète Amazone), done at Paris on 10 feveireiro 2012.



(again, an improved English translation will be provided as soon as is possible)

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