Thursday, 8 March 2012

"As mulheres em movimento ajudam suas organizações a trilhar para a ofensiva” (#Brasil #MST #IWD) / Women in the movement help their orginizations tread on the offensive (#Brazil #MST #IWD)

Postado originalmente por Movimento dos Trabahaldores Rurais sem Terra (MST) em http://www.mst.org.br/As-mulheres-em-movimento-ajudam-suas-organizacoes-a-trilhar-por-um-caminho-de-ofensiva 
Originally posted by the Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) at http://www.mst.org.br/As-mulheres-em-movimento-ajudam-suas-organizacoes-a-trilhar-por-um-caminho-de-ofensiva 
Traduzido por @alxgucci 
Translated by @alxgucci


(The English translation can be found immediately below the Portuguese text)

7 de março de 2012
March 7, 2012



Por Vanessa Ramos
Da Página do MST


Há tempos que as mulheres brasileiras não seguem o exemplo das “Mulheres de atenas”, de Chico Buarque. “... Quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem imploram mais duras penas; cadenas...”.Em vez disso, hoje as mulheres lutam, juntam forças, fazem exigências e protestos.
Mesmo com todos os problemas que ainda persistem em relação às questões de gênero em nossa sociedade, as mulheres têm se mostrado fortes e desafiadoras ao se colocarem na linha de frete de muitas lutas e, assim, dão passos largos para transformações históricas na sociedade.
O dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, simboliza também o dia internacional de lutas das mulheres do campo e da cidade. “Toda vez que as mulheres se põem em movimento dentro das organizações, ajudam-nas a trilhar por um caminho de ofensiva, que é o caminho dos trabalhadores”, avalia Kelli Mafort, do Setor de Gênero do MST, que atua no estado de São Paulo.
Em entrevista à Pagina do MST, Kelli conta como as mulheres se posicionam em relação a algumas questões políticas, sobre a violência contra a mulher e sobre as distintas lutas que participam.
Leia abaixo a entrevista.
                                                                                                                                         
Qual é o objetivo da Jornada de Lutas das Mulheres neste ano?
A jornada tem como temas principais a questão do veto da presidenta Dilma às alterações do Código Florestal. Essas alterações apenas favorecem os ruralistas e o agronegócio. Então, já estamos nos mobilizando para exigir o veto da Dilma.
Outro tema também presente é a questão dos agrotóxicos. Esse já foi um tema discutido no ano passado e que persiste, dada à posição que o Brasil ocupa no cenário mundial, como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, favorecendo principalmente as empresas ligadas à produção de venenos.
Além disso, a jornada também pauta a paralisia da Reforma Agrária. O ano de 2011 foi um dos piores anos da Reforma Agrária. Queremos reverter esse quadro, pois o Estado brasileiro tem se organizado para dar suporte ao agronegócio. As mulheres vão às ruas no dia 8 de março para denunciar essa situação de privilégio e exigir que a Reforma Agrária saia do papel.

Como vocês se posicionam e discutem no campo a questão da violência contra a mulher?
A questão da exploração, no caso das mulheres, está inserida, em geral, na classe trabalhadora. Por isso, quando falamos em gênero no MST, também está ligado a questão da classe. São as mulheres inseridas na classe trabalhadora. Ainda vivemos numa sociedade patriarcal. A nossa luta é contra a sociedade patriarcal e contra a sociedade capitalista. O capital opera em diferentes dimensões e também na questão do patriarcado. A violência a qual as mulheres são submetidas são expressadas de diferentes formas. A violência física, a violência doméstica é uma dessas formas, mas, na realidade, a nossa luta é contra todos os tipos de violência contra as mulheres.

Por que o sistema capitalista afeta principalmente as mulheres?
O sistema capitalista afeta principalmente as mulheres porque a luta por uma igualdade de direito, na caso das mulheres, é uma luta que não pode ser efetivada dentro desse sistema. A luta histórica do feminismo tem a bandeira da emancipação. No entanto, uma igualdade substantiva, que não é uma igualdade superficial, só na aparência, só é possível com alteração do modelo de sociedade.

Essa luta fica mais forte, mais intensa, no dia 8 de março. Apesar disso, muito ainda se faz o uso inadequado desse dia, como um dia de embonecar a mulher, além de uma série de deturpação do que é o dia 8 de março. Pra gente, o dia 8 de março é um dia internacional de lutas, uma vez que os nossos direitos de igualdade não foram alcançados e não serão alcançados nessa sociedade.

A história tem mostrado que quando os trabalhadores e as trabalhadoras sem colocam em movimento, eles obtém conquistas. Não podemos esquecer que somos a maioria da população. Acho que a gente precisa ter essa concepção e acreditar que podemos ser muito mais feliz do que somos na sociedade atual e pra isso, temos que nos organizar, nos colocar em movimento.

A luta não pode ser só pela Reforma Agrária. A luta tem que ser por uma transformação social não só do MST, mas também de outras organizações e de outras mulheres que não estão ainda engajadas em nenhuma organização. A gente precisa se dispor a fazer trabalho de base, a se movimentar para garantir essas conquistas.

A luta da mulher do campo está separada da luta da mulher urbana?
Sem dúvida, é preciso uma unificação. As ações do dia 8 de março desse ano já revelam essa indicação. Em vários estados, as ações das camponesas vão acontecer junto às trabalhadoras urbanas. Por exemplo, a indignação com o despejo das famílias do Pinheirinho, uma ação que aconteceu no estado de São Paulo, no município de São José dos Campos, é um tema que está bastante presente na nossa jornada, que representa também a luta dos movimentos sociais de uma maneira geral.

Nossa luta é contra a repressão do Estado, contra a repressão aos trabalhadores. Isso mostra que não é uma luta somente do campo ou que há diferenças na luta do campo e da cidade. A própria ação que aconteceu nesta terça-feira (6), no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, da ocupação do Ministério da Fazenda, foi uma ação do MST, da Via Campesina e das trabalhadoras urbanas. Várias outras ações também estão nessa direção.

De que forma as camponesas pretendem contribuir para a construção da soberania alimentar no país?
A partir de 2006, a ação que nós realizamos na empresa Aracruz, no Rio Grande do Sul, foi um marco tanto da mudança na forma da luta do dia 8 de março como também uma luta que revelou as alterações no meio rural. Hoje, nós temos um campo organizado para o capital, que não garante a soberania alimentar.

A ação de 2006 revelou um campo com pouca gente, de reprodução do capital e para empresas do agronegócio. As mulheres se organizam para dizer que não é esse o campo que nós acreditamos. Defendemos um campo que garanta a soberania alimentar, que seja um espaço da reprodução da vida e não da reprodução do capital.

Qual o papel da mulher na luta pela Reforma Agrária?
Tem uma canção que diz “sem mulher, a luta vai pela metade”. Nós acreditamos nisso. Além disso, tem uma questão na base material da luta das mulheres que ajuda a puxar o Movimento para uma ofensiva ousada, uma vez que a exploração das mulheres trabalhadoras é dupla. Ela é dupla no sentido de que é uma exploração da classe, mas também há uma violência contra a mulher. A nossa manifestação da luta também é dupla.

Essa dupla exploração puxa as mulheres para ações mais ousadas e com isso ajuda a puxar o interior das organizações, sejam elas do campo ou da cidade. Toda vez que as mulheres se põem em movimento dentro das organizações, ajudam-nas a trilhar por um caminho de ofensiva, que é o caminho dos trabalhadores. 
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By Vanessa Ramos 
Page MST 

March7th, 2012



There are times that Brazilian women do not follow the example of the "Women of Athens", by Chico Buarque. "... When stricken do not cry, kneel, beg demand tougher sentencing; ... chains. "Instead, today's women fight, join forces, make demands and protest.

Even with all the problems that still persist in relation to gender issues in our society, women have shown themselves to strongly challenge and to put themselves in the front lines of many struggles, thus taking long strides in historical transformations of society.

March 8th, the International Women's Day, also symbolizes the international day of women's struggles in the countryside and city. "Whenever women are set in motion within organizations, they help them to tread a path on the offensive, which is the way of the workers," says Kelli Mafort,  of the MST's Gender Sector, which operates in the state of São Paulo.

In an interview with MST website, Kelli tells how women position themselves in relation to political issues, on violence against women and on the different struggles they are currently facing.
 


What is the purpose of the Women's Journey of Struggle  this year? 


The movement has as its main themes the question of the veto of President Dilma to change the Forest Code. These changes only favor ruralists and agribusiness. So we are already mobilizing to demand the veto of Dilma.

Another theme also present is the issue of pesticides. This has been a topic discussed last year and remains relevant, given the position that Brazil is one of the largest consumer of pesticides in the world, favoring mainly the companies involved in the production of such poisons.

Moreover, the movement also puts on the agenda the paralysis of Agrarian Reform. The year 2011 was one of the worst years of Agrarian Reform. We want to reverse this situation because the Brazilian government has been organized to support agribusiness. Women take to the streets on March 8th to denounce this situation of privilege and to demand that the Agrarian Reform be put in practice, rather than just remain on paper. 



How do you position yourselves and discuss the issue of violence against women? 


The issue of exploitation, in the case of women, is inserted usually in the working class. So when we talk about gender in the MST, we also link the issue of class. Are women included in the working class? We still live in a patriarchal society. Our fight is against society and against the patriarchal capitalist society. Capital works in different dimensions and within the issue of patriarchy. The violence to which women are subjected are expressed in different ways. Physical violence, domestic violence is one of these forms, but in reality, our struggle is against all forms of violence against women.



Why does the capitalist system primarily affects women?


The capitalist system affects mainly women because the struggle for equal rights, in the case of women, is a fight that can not be accomplished within that system. The historical struggle of feminism is the banner of emancipation. However, a substantive equality, which is not a superficial equality, is only possible with changing patterns in society.



This fight becomes stronger, more intense, on March 8th. Nevertheless, many still make inappropriate use of this day by, for example, making the woman into a pretty doll. So there is a lot of misrepresentation of what is March 8th. For us, the 8th of March is an international day of struggle, since our rights to equality were not made and will not be achieved in this society. 



History has shown that when male workers and female workers join together, they achieve victories. Do not forget that we are the majority population. I think we need to have this view and believe that we can be much happier than we are in today's society and for that we must organize ourselves, put ourselves in motion. 



The fight can not be only for Agrarian Reform. The fight has to be a social transformation not only of the MST, but also other organizations and other women who are not yet engaged in any organization. We must be willing to do basic work to guarantee these victories. 



The struggle of the rural woman is separated from the struggle of the urban women? 


Undoubtedly, we need a unification. The actions of March 8th this year reveal this indication. In several states, the actions of farmers are going to happen next to urban workers. For example, the outrage at the eviction of families of Pinheirinho, an action that happened in the state of São Paulo, in São José dos Campos, is a subject that is very present in our journey, which also represents the struggle of social movements in general.



Our fight is against state repression, the repression against the workers. This shows that it is not only a struggle of the countryside or that there are differences between the struggle of the city and countryside. The very action that happened on Tuesday (6), in Rio Grande do Sul in Porto Alegre, the occupation of the Ministry of Finance, was an action of the MST, Via Campesina and urban workers. Several other actions are also planned in this direction. 



How do farmers intend to contribute to the construction of food sovereignty in the country? 


Since 2006, the action that we perform in Aracruz, in Rio Grande do Sul, was a landmark change in both the struggle of March 8th as well as a fight that showed the changes in rural areas. Today, we have organized a field for capital, which does not guarantee food sovereignty. 



The action of 2006 showed a field with few people, the reproduction of capital and agribusiness companies. The women organized themselves to say that this is not the field that we believe in. We support a field that ensures food sovereignty, which is an area of reproduction of life and not the reproduction of capital.

What is the role of women in the struggle for agrarian reform?


There's a song that says "being a woman, the fight is halfway there." We believe that. Moreover, it has an issue at it's very material basis of women's struggle to help push the movement for a bold offensive, since the exploitation of women workers is twofold. It is twofold in that it is an exploration of class, but there is also a violence against women. The manifestation of our struggle is also twofold. 



This double exploitation pulls women to bolder actions and it helps pull together the inside of organizations, whether from the countryside or the city. Whenever women are set in motion within organizations, they help them to tread a path on the offensive, which is the way of the workers.

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