Thursday 2 August 2012

Vale Tudo Por Dinheiro (#Brasil) / Vale, Where Money Rules (#Brazil)


Postado originalmente via Vida Injusta por @narcisomendes em http://vidainjusta.com/post/27938084464/vale-tudo-por-dinheiro
Originally posted via Vida Injusta by @narcisomendes at 
http://vidainjusta.com/post/27938084464/vale-tudo-por-dinheiro

Estava pesquisando sobre a Companhia Vale do Rio Doce para uma pesquisa da escola. Todos devem saber o que é essa tal companhia, ou o que ela faz, mas para os mais leigos, a Vale, criada em 1942, no governo Getúlio Vargas, é uma empresa brasileira privada de capital aberto e uma das maiores mineradoras do mundo (verbete da Wikipédia). Mas a Vale nem sempre foi uma empresa privada.

I was researching the company Vale of  Rio Doce for a school project. Everyone should know about such a company, or what this kind of company does. But for most laymen, Vale, established in 1942 by the government of Getulio Vargas, is simply a Brazilian company which is privately-held and one of the largest mining companies in the world (Wikipedia entry). But Vale has not always been a private company.

Vale no Carajás, Pará.
”[…] grandes mineradoras, como a Companhia do Vale do Rio Doce – que opera na maior mina de minério de ferro do mundo, no complexo de Carajás, no Pará –, já reduziram o impacto da atividade” / "[...] Large mining companies such as the Comany Vale of Rio Doce - which operates the largest iron ore mine in the world, the complex of Carajás in Pará - have already reduced the impact of activity"
Esse trecho que foi retirado de uma matéria da Superinteressante fez com que eu descobrisse algo que me deixasse surpreso.

This excerpt is taken from a field of Superinteressante made ​​me discover something that left me surprised.

O trecho fala que a maior mina de minérios de ferro do mundo fica em Carajás, no Pará. Carajás logo me lembra de algo muito triste em nossa história. O Massacre do Eldorado dos Carajás em 1996. Esse massacre resultou na morte de dezenove sem-terra e deixou mais de sessenta feridos após uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia PA-150, que havia sido bloqueado por manifestantes que pediam rapidez na reforma agrária. Apenas com essas informações já começo a enxergar uma relação da Vale com o Massacre dos Carajás.

The passage says that the largest iron ore mine in the world is in Carajás, Carajás in Pará logo reminds me of something very sad in our history. The Massacre of Eldorado dos Carajas in 1996. This massacre resulted in the deaths of nineteen landless people and left more than sixty injured after a violent action by the Military Police to release the PA-150, which had been blocked by demonstrators who were calling for faster land reform. Only with this information is it possible to see a relationship with the Vale dos Carajás Massacre.

Corpos dos mortos no massacre.

Em 1996, o Brasil estava sob o poder do Fernando Henrique Cardoso, o tal do FHC, presidente eleito pelo PSDB pelos anos de 1995 até 2003. Nesse mesmo ano a Vale ainda não tinha sido privatizada — ocorreu um ano seguinte, pelo FHC —, portanto, ela era uma empresa controlada pelo governo brasileiro.

In 1996, Brazil was under the power of Fernando Henrique Cardoso, as the FHC, PSDB president elected for the time period between 1995 to 2003. That same year Vale had not yet been privatized - this occurred one year following the FHC - therefore it was a state-controlled company.

Após várias pesquisas no Google sobre o assunto eu achei uma matéria no Portal Terra sobre um livro que detalhe o massacre ocorrido em 1996. Acompanhe aqui um trecho da entrevista do Eric Nepomuceno, autor de O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade: / After several Google searches on the subject I found a story in Portal Terrasobre, a book that details the massacre in 1996. The following is an excerpt of the interview with Eric Nepomuceno, author of The Massacre - Eldorado do Carajas: a history of impunity:
Terra Magazine: Como foi apurar a história para esse livro?
Eric Nepomuceno: A ideia desse livro começou de um jeito curioso. O Nilo Batista, aquele grande advogado criminalista lá do Rio, um dia me ligou e disse “você não quer fazer um livro sobre aquela farsa de julgamento?”. E eu me interessei e, conforme eu comecei a mexer com os advogados que foram testemunhas de acusação, que assessoraram o promotor público lá em 96, eu vi que ia precisar saber mais do massacre. Eu sabia o que qualquer brasileiro medianamente bem informado sabe. Aí eu fui pra Marabá, entrevistei muita gente… Toda a informação do livro está no processo da polícia civil…
TM: Que são as 20 mil páginas que você leu…
EN: Isso, e no inquérito. Aquilo ali serviu de pista. Eu também entendi rapidinho que eu não tinha ideia do que é o Estado do Pará. E conforme eu fui mexendo em como é o negócio de terra no Pará, as informações vêm. Os relatórios da pastoral da terra, relatórios do Ministério do Trabalho, tá tudo ali. Eu cito alguns casos, uma ou outra família, um ou outro personagem, não dizendo que ele… Ele é um exemplo…
TM: Um exemplo do contexto do Pará…
EN: É. Eu usei os exemplos mais representativos.
TM: E durante essa apuração você encontrou alguma resistência?
EN: Eu encontrei resistência de quem não quis falar. Evidente que o coronel Pantoja e o major Oliveira nem pensar, eu conversei com advogados deles. O governador Almir Gabriel, nem pensar.
TM: Você chegou a procurá-los e eles se recusaram a falar?
EN: Eu não procurei diretamente, mas eu procurei gente próxima a eles. Algumas pessoas falaram comigo, algumas pessoas que foram assessores ou que os conhecem. O nome dessas pessoas evidentemente não aparecem no livro por razões óbvias. Essas pessoas disseram “olha, nem tenta”. Um tentou sondar, eu estava em Belém do Pará, e ele falou “olha, não só não convém como… Esquece”. Eu tentei, por exemplo, averiguar o negócio da Vale do Rio Doce, que é quem reservou os ônibus que levaram as tropas que fizeram o que fizeram. Aí não dá, porque na época era estatal, “nem tem esse arquivo”, “esquece”…
Terra Magazine: How was the story establish for this book?
Eric Nepomuceno: The idea of ​​this book began in a curious way. The Nilo Batista, the great criminal lawyer here in Rio, one day called me and said "do you do not want to do a book on that farce of judgment?". And I became interested, and as I started to mess with the lawyers who were prosecution witnesses, who advised the district attorney there in 96, I saw that would need to know more of the massacre. I knew what any Brazilian could be moderately well informed. Then I went to Maraba, I interviewed a lot of people ... All the information of the book is contained in the materials held by the civil police ...
TM: What are the 20 thousand pages you read ...
EN: That, and the investigation. It served as a clue there. I also quickly realized that I had no idea what is going on in the state of Pará and as I was digging into how business in Pará is conducted, the information became available. The reports of pastoral land, reports the Ministry of Labour, it's all there. I quote some instances, one or another family, one or another character, saying he did not ... He is an example ...
TM: An example of the context of Para ...
EN: Yeah. I used the most representative examples.
TM: And during this research did you encounter any resistance?
EN: I found some who would not talk. It was evident that Colonel Pantoja and Major Oliveira even think I talked to their lawyers. The governor Almir Gabriel, no way.
TM: Did you look for them and they refused to speak?
EN: I have not tried directly, but I looked for people close to them. Some people told me, some people who were advisors or who know them. The names of these people obviously do not appear in the book for obvious reasons. These people said "look, do not try." One tried to reason with me, I was in Belem, and he said "look, not only should be like ... Never mind." I tried, for example, to investigate the business of Vale do Rio Doce, I tried to look for the one who booked the coach who led the troops and then did what they did. There was no information, because it was a state period, "the file was not availabe", "forget it" ...

A parte em negrito é a que eu considero de extrema importância. A Vale reservou os ônibus que levaram a PM até o palco do Massacre de Eldorado dos Carajás. A Vale está em Carajás desde o início da década de 80. Já o MST chegou ao Pará em 1989. A Vale, que ainda era estatal, reservou ônibus para levar a tropa da PM para matar aqueles manifestantes que buscavam a reforma agrária. O dinheiro vale mais do que o sangue derramado daquelas pessoas inocentes.

The bold part is what I consider very important. Vale reserved coaches that led the military police to the area of the Massacre of Eldorado dos Carajas. Vale has been in Carajás since the early 80s. The MST arrived in Para in 1989. Vale, which was still state owned company, reserved a bus to take the troops to kill those demonstrators seeking land reform. To them money is worth more than the shed blood of those innocent people.

Charge sobre o massacre.

A Vale ganhou o prêmio de pior empresa do mundo em 2012 dado pelo The Public Eye Awards. Ela recebeu 25 mil votos, dessa forma, desbancando empresas como a Tepco e a Samsung. A Vale é acusada de transformar florestas em minas ou barragens, não importando como. Mas não só foi por isso que ela ganhou. Ela também foi acusada de situações como trabalho escravo e infantil, comunidades tradicionais e remoção de famílias devido a implantação de projetos e empreendimentos.

Vale won the award for worst company in the world since 2012 which was awarded by The Public Eye Awards. The company received 25,000 votes, thus displacing companies like Samsung and Tepco. Vale is accused of turning forests into mines or dams, no matter what. But not only was this why the company won. Vale was also accused of situations like slave and child labor, the forced removal of traditional communities and families for the purpose of the implementation of projects and ventures.

Um massacre, como um raio, não cai duas vezes no mesmo lugar?
Em novembro de 2009, quase ocorreu uma tragédia na “Curva do S”, local onde 19 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados. Policiais ameaçaram ir para cima de mais de mil trabalhadores ligados ao MST durante uma manifestação pacífica. Faltou pouco, muito pouco. À frente, o delegado Raimundo Benassuly, que ficou conhecido nacionalmente por tentar justificar que uma adolescente de 15 anos colocada em uma cela cheia de presos no Pará era a culpada pelo episódio. Relembrando: segundo ele, a menina “certamente tem alguma debilidade mental porque em nenhum momento informou ser menor de idade”. Foi afastado, mas depois voltou ao cargo. Como disse o ultrapassado Marx, “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

A massacre, like lightning, does not strike twice in the same place?
In November 2009, a tragedy almost occurred in the "S curve", where 19 landless workers were murdered. Police threatened more than a thousand workers linked to the MST during a peaceful demonstration. It lacked very, very little. Ahead of this, the chief Raimundo Benassuly, who was known for trying to justify the imprisonment of a 15 year old in a cell full of prisoners in Pará was to blame for the episode. Remember: according to him, the girl "certainly had some mental retardation because at no time was she reported to be minor." He was relieved of his duties, but then returned to office. As Marx said the outdated, "history repeats itself, first as tragedy and then as a farce."


(trecho retirado do Blog do Sakamoto) / (excerpt from Sakamoto's Blog)

No comments:

Post a Comment