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The English translation follows the Portuguese text
A tradução segue o texto Inglês Português
por FELIPE MILANEZ
Às margens do Rio Tapajós, em Itaituba (PA), um encontro de grupos sociais discute os impactos da construção da primeira de cinco hidrelétricas na região. Felício Pontes está com a palavra. Procurador Federal do Pará e atuante em defesa de populações atingidas por usinas, ele aponta no mapa a cachoeira Sete Quedas, um dos locais da construção da usina no rio Teles Pires, formador do rio Tapajós.
“É o local de procriação dos peixes”, Pontes explica, tentando provar que as usinas na Amazônia não são necessárias para o desenvolvimento do país, enumerando formas de desperdícios e energias alternativas. “Sou ruim de matemática, mas é só fazer as contas.”
Em seguida, Kubatiapã (nome indígena de Tiago Munduruku), cacique do povo mundurucu, pede para contar o pesadelo que teve na noite anterior.
“Estávamos andando, um bocado de pessoas. Pintados. Com arco e flecha nas costas, na direção do poente. Num momento vem um avião, passando pertinho. E de uma estrada, para um carro, e eles começam a atirar. O avião metralha. Eu estava com a arma, o arco na mão, que virou uma espingarda 22. O jato começou a atirar contra o povo, na direção dos mais fracos. Gritei para todo mundo entrar no mato. Era como pingo d’agua caindo do céu. Eram projéteis, balas. Nos escondemos, e fomos para essa cachoeira sagrada. Lá é um lugar protegido. Ali está a história”, diz. “Se acontecer a hidrelétrica, o rio Tapajós tem história indígena. Vão acabar com o rio. Vão acabar.”
De acordo com informações do Ministério Público e da organização International Rivers, o governo federal planeja construir três usinas no rio Tapajós, quatro no Jamanxim (um afluente) e seis barragens para o Teles Pires, que, juntamente como o Juruena, forma o Tapajós. Para a bacia toda, que inclui ainda o rio Apiacás, o plano é levantar um total de 16 barragens, que impactariam mais de dez mil indígenas que vivem às margens desses rios.
O pesadelo do genocídio indígena sonhado por Kubatiapã talvez não seja uma fantasia. No encontro, ocorrido em maio, o cacique debateu com lideranças dos movimentos sociais do rio Madeira, como Iremar Antônio Ferreira, do Instituto Madeira Vivo, e Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo. O objetivo é construir uma “aliança pelos quatro rios”, envolvendo Madeira, Xingu, Tapajós e Teles Pires. Jesielita Roma Gouveia, coordenadora do fórum social dos movimentos da BR-163, estrada que está sendo asfaltada e trará impactos à região, foi escolhida para ser a coordenadora do movimento Tapajós Vivo.
“Itaituba cresceu desordenadamente desde a época do garimpo”, reclama Jesielita. “Depois, vieram as madeireiras, e agora os projetos de rodovia, hidrovia, complexos hidrelétricos e PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) que estão no PAC 2, da presidente Dilma. O governo não conhece nossa realidade. Não estamos preparados para receber um projeto desse porte. A gente está sofrendo muito.”
Nunca, em toda a sua etno-história, a Amazônia passou por um processo tão profundo de transformação – nem mesmo com o desmatamento de quase 20% da cobertura vegetal, nos últimos 40 anos. Todos os formadores do Amazonas vindos do sul, salvo poucas exceções de rios em áreas planas, estão servindo a barragens. As duas usinas do rio Madeira, Santo Antonio e Jirau, devem entrar em operação este ano ou em 2013, enquanto Belo Monte, no rio Xingu, em Altamira (PA), está projetada para começar a funcionar em 2015. Nessa série, o rio Tapajós será o próximo a receber uma megaobra, que poderá ter início já no ano que vem, por São Luiz – a construção teria começado escondida já no início de 2012. Tudo faz parte do plano de tornar o país uma “potência energética do século 21”, conforme declarou Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE).
Vistos do alto, os rios da Bacia Amazônica lembram veias que escorrem das margens elevadas para o centro baixo e movimentam um sistema vivo – a floresta –, habitado por inúmeras populações humanas e não humanas. A água é drenada para o centro por cerca de 1.700 rios, que se juntam para formar o rio Amazonas, maior do mundo em volume de água e, dependendo do cálculo, também em extensão. Escorrendo para o oceano Atlântico, ele despeja 240 mil metros cúbicos por segundo de água, um quinto de toda a água doce do planeta, a até 150 km da costa.
A cor das águas é uma característica de cada rio: o verde-escuro do Xingu e o verde-azulado do Tapajós, ambos de águas cristalinas, contrapõem o Madeira, de águas turvas e pouco convidativas. São características determinadas pela erosão: rios que descem dos Andes trazem mais sedimentos. As margens, onde esses sedimentos ficam depositados, se tornam férteis e, portanto, também são as áreas mais habitadas.
No percurso dos planaltos em direção à planície está o que o governo brasileiro considera serem 70% das “reservas energéticas” do país. Isto é: locais onde é possível aproveitar a força hídrica e transformá-la em energia pelas turbinas das usinas.
Desde a construção da usina Tucuruí, e em razão dos grandes impactos sociais e ecológicos na área, não foram feitas novas grandes usinas na Amazônia. A retomada do projeto de aproveitamento da reserva energética amazônica ocorreu durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula e foi capitaneada por Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia. É muito provável que esse plano do governo seja alvo de críticas e protestos este mês, durante o encontro mundial Rio+20. Ainda mais depois que Dilma descartou publicamente as numerosas críticas às usinas: “Ninguém numa conferência dessas também aceita, me desculpem, discutir a fantasia. Ela não tem espaço para a fantasia. Não estou falando da utopia, essa pode ter, estou falando da fantasia”, declarou a presidente.
Uma quantidade ainda maior de megawatts está além das fronteiras, nos Andes, para onde o Brasil planeja expandir seu mecanismo de produção energética. Há mais de 150 projetos de hidrelétricas para serem construídos na região nos próximos 20 anos, segundo estudo realizado pelos pesquisadores Matt Finer e Clinton Jenkins. As usinas devem ocupar cinco dos seis formadores andinos do rio Amazonas, e o Brasil será um dos principais investidores desses projetos. Os peruanos, por outro lado, criticam Dilma por querer construir cinco usinas hidrelétricas no país (já em negociação) com o intuito de produzir energia para o Brasil.
De acordo com o ambientalista Bruce Barbbit, em artigo publicado no jornal peruano El Commercio, os projetos do governo brasileiro deslocariam cinco mil pessoas no rio Inambari e implicariam no desalojamento de dez mil índios ashaninkas. Juntas, as usinas causariam impactos em 1,5 milhão de hectares de floresta. Isso iria ocorrer no “coração cultural e ambiental da Amazônia peruana, próxima a três áreas protegidas: o Parque Nacional del Manu, o Parque Nacional Bahuaja Sonene e o Parque Nacional Alto Purus”. Uma das usinas também atingiria o Santuário Nacional Megantoni, área sagrada dos índios machiguengas e próxima ao menos de dois povos indígenas isolados.
Você continua lendo esta matéria na edição 69 da Rolling Stone Brasil, Junho/2012.-------
While imponetes rivers of the Amazon is occupied by hydroelectric and make Brazil the "Power Energy in the 21st century," the impact of these works for the local population continues to be ignored
By FELIPE MILANEZ
On the banks of the Rio Tapajós in Itaituba (PA), a meeting of social groups discusses the impacts of construction of the first of five dams in the region. Felicio Pontes is the word. Federal Prosecutor of Pará and acting in defense of people affected by power plants, he points on the map to Seven Falls waterfall, one of the local power plant construction in the Teles Pires River, forming the Tapajos River.
"It is the breeding ground of fish," Bridges said, trying to prove that the plants in the Amazon are not necessary for the development of the country, listing forms of waste and alternative energy. "I'm bad at math, but just do the math."
Then Kubatiapã (indigenous name of James Munduruku), chief of the people Mundurucu, seeks to tell the nightmare that took place the night before.
"We were walking, a lot of people. Painted. With bow and arrow on their backs toward the west. At a time a plane, was passing close by. And on the road was a car, and they start shooting. The aircraft shrapnel. I had the gun, bow in hand, turned a shotgun 22. The jet began firing at the people in the direction of the weakest. I yelled for everyone to enter the woods. It was like drop of water falling from the sky. There were bullets, bullets. We hid and went to the sacred waterfall. There is a safe place. There is history, "he says. "If you happen to dam the river Tapajos is indigenous history. Will end up with the river. Go away."
According to the information from the prosecutors and fromt he organization 'International Rivers', the federal government plans to build three plants in the Tapajós River, four in Jamanxim (a tributary) and six dams for the Teles Pires, who together as Juruena forms the Tapajos. For the entire basin, which includes the river Apiacás, the plan is to raise a total of 16 dams, which would impact more than ten thousand Indians living on the banks of these rivers.
The nightmare experienced by the indigenous genocide Kubatiapã may not be a fantasy. At the meeting, held in May, this was discussed with the chief leaders of the social movements of the Madeira River, as Iremar Antonio Ferreira, Instituto Vivo Wood and Antonia Melo, coordinator of the Xingu Vivo Movement. The goal is to build an "alliance of the four rivers," involving Madeira, Xingu, Tapajós and Teles Pires. Jesielita Rome Gouveia, coordinator of the social forum movement of BR-163 highway is being paved and will impact the region, was chosen to be the coordinator of the movement Tapajós Vivo.
"Itaituba has grown wildly since the days of mining," complains Jesielita. "Then came the timber, and now projects of roads, waterways, hydroelectric plants and PCHs (Small Hydroelectric) who are second in the PAC, of President Dilma. The government does not know our reality. We are not prepared to have a project of this size in our territory. We are suffering a lot."
Never, in all its ethno-history, has the Amazon gone through a process of transformation so profound - even with the clearing of nearly 20% of plant cover in the last 40 years. All trainers from the south of Amazonas, with few exceptions in plain areas of rivers, dams are serving. The two plants on the Madeira River, San Antonio and Jirau, should go into operation this year or in 2013, while Belo Monte on the Xingu river in Altamira (PA), is projected to begin operating in 2015. In this series, the Tapajos River will be the next to receive a megaobra, which may start already next year, in St. Louis - the construction would have started hiding in early 2012. All part of the plan making the country an "energy superpower of the 21st century," as stated by Mauricio Tolmasquim, president of the Energy Research Company (EPE).
Viewed from above, the rivers of the Amazon Basin resemble veins that drain the high margins to the center and move down a living system - the forest - populated by numerous human and nonhuman populations. Water is drained to the center by about 1,700 rivers, which join together to form the Amazon, the world's largest volume of water and, depending on the calculation also extended. Flowing into the Atlantic Ocean, it turns out 240,000 meters cubic per second of water, one fifth of all freshwater on the planet, up to 150 miles offshore.
The color of the water is a characteristic of each river: the dark green of the Xingu and Tapajós bluish-green, both with crystal clear waters, oppose the Madeira, water turbid and uninviting. These characteristics are determined by erosion, the rivers that descend from the Andes bring more sediment. The edges where they are deposited sediment, become fertile and therefore also more populated areas.
The route from the highlands toward the plain is that the Brazilian government considers to be 70% of "energy reserves" of the country. That is, places where you can take advantage of hydropower and turn it into energy by the turbines of power plants.
Since the construction of the Tucuruí power plant, and because of the great social and ecological impacts in the area, were not made new large power plants in the Amazon. The resumption of the project for exploitation of energy reserves Amazon occurred during the first term of former President Lula and was captained by Rousseff, then Minister of Mines and Energy. It is very likely that the government's plan is criticized and protests this month, during the world meeting Rio +20. Especially after that Dilma publicly dismissed the numerous criticisms of the plants: "No one of these also accepts a conference, I apologize, discuss fantasy. She has no room for fantasy. I'm not talking about utopia, this may have, I'm talking about fantasy, "said the president.
An even greater number of megawatts is beyond borders, in the Andes, to which Brazil plans to expand its energy production mechanism. There are more than 150 hydroelectric projects to be built in the region over the next 20 years, according to a study by researchers Matt Finer and Clinton Jenkins. The plants should occupy five of the six trainers Andean Amazon River and Brazil will be a major investor in these projects. The Peruvians, however, Dilma criticized for wanting to build five hydroelectric dams in the country (in negotiation) in order to produce energy for Brazil.
According to the environmentalist Bruce Barbbit, in an article published in the Peruvian newspaper El Comercio, the Brazilian government projects displace five thousand people in the river Inambari and would require the displacement of ten thousand Indians ashaninkas. Together, the plants would cause impacts on 1.5 million hectares of forest. This would occur in the "environmental and cultural heart of the Peruvian Amazon, close to three protected areas: Parque Nacional del Manu National Park Bahuaja Sonene and Alto Purus National Park." One of the plants also reach the National Shrine Megantoni, Machiguenga Indians of the sacred area and close at least two uncontacted tribes.
Are you still reading this material in 69 edition of Rolling Stone Brazil, June/2012.
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