Friday, 13 January 2012

MANIFESTANTE: 'Presos nos trataram melhor que a polícia' #contraoaumento


DECLARAÇÕES DURANTE ENTREVISTA: Veja os relatos de 6 dos manifestantes que foram presos

Na manhã desta sexta-feira (13/01), seis dos oito manifestantes preso no início da semana durante os protestos contra o aumento da passagem, deram entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos, na avenida Campos Sales, centro da capital. Eles falaram sobre os momentos de terror vividos dentro das celas da Casa de Custódia e da Penitenciária Feminina.

Maria Helena Beatriz (Filha de Lourdes Melo), Francisco Sá Batista (ex-marido de Lourdes Melo), Maria do Socorro Santana de Sousa, Kevin Nogueira Fontes, Alamo de Sousa Ricarte e Antônio Wilson Junior falaram aos jornalistas tudo que viveram desde o momento em que foram detidos pelos militares até as horas intermináveis dentro das celas juntos com criminosos.

Todos foram soltos nesta quinta (12/01), depois de terem sido presos no final da tarde da terça (10/01), quando o confronto entre policiais e manifestantes teve seu ponto alto. Depois de bloquearem a Frei Serafim, próximo ao cruzamento com a Coelho de Resende, os manifestantes foram intimidados pelos militares que formaram um cordão, em seguida avançara com a Tropa de Choque.

Alguns foram presos durante o confronto, outros já depois que ele tinha sido encerrado, outros sequer participavam do movimento. Acompanhe a seguir o relato de cada um dos presos, que agora pedem a ajuda de psicólogos para enfrentar o trauma da violência física e psicológica que dizem ter sofrido.

ANTÔNIO WILSON JÚNIOR

“EU SÓ ESTAVA FILMANDO”

Estudante da Universidade Estadual do Piauí, Antônio Júnior contou que tentava chegar em casa quando tudo aconteceu. “Eu sai da Maranhão e fui caminhando até a Frei Serafim para pegar meu ônibus, que com a integração mudou de rota. Quando cheguei ali próximo ao Pão de Açúcar vi o movimento. Do meu lado então passou um menino com o olho ferido. Ajudei e depois fui um pouco mais perto para filmar com meu celular o que estava acontecendo. Foi quando um PM me parou e disse que eu estava preso, porque não poderia filmar”, contou.

“PRESOS NOS TRATARAM MELHOR QUE A POLÍCIA”
Antônio foi levado para a Central de Flagrantes, e no dia seguinte, transferido para a Casa de Custódia. “Estava algemado pelas mãos e pés. Como estava apertado no meu tornozelo, fiquei com o pé vermelho, inchado. Passei mal inclusive. Como não podia entrar na cela de calça, eles rasgaram a minha roupa. Antes de entrarmos fomos instruídos por outros presos sobre como as coisas deveriam acontecer. É só ‘não senhor’ e ‘sim senhor’. Estávamos no pavilhão G, onde estão os criminosos de alta periculosidade, mas felizmente os bandidos nos trataram melhor que a polícia”.


Antônio Wilson Junior

“CAMA É SÓ UMA PEDRA”
Ele falou ainda sobre as condições em que vivem os presos do local. “Lá tem baratas, moscas. É tudo muito sujo. Para banharmos, não tem chuveiro, apenas um buraco no teto por onde sai água e só nos horários de 6h e 4h da manhã. Banheiro não existe, nem vaso. É apenas um buraco no chão onde fazemos as nossas necessidades. Os presos que nos emprestaram sabão para tomarmos banho. As camas não têm colchão, é só uma pedra com um pano em cima. Não tem conforto nenhum”, finalizou.

ALAMO DE SOUSA RICARTE

“FUI PRESO NA AVENIDA MARANHÃO”
O caso de Alamo, é um dos mais interessantes. O jovem de 19 anos, estudante de direito da Faculdade Santo Agostinho, ele contou que já foi ser pego pelos policiais na avenida Maranhão. “Fui sim, participei do movimento, mas já estava indo para casa. Os policiais me abordaram já na avenida Maranhão, em cima de um mototaxi. Os homens da RONE mandaram eu deitar no chão, me revistaram e disseram que eu tinha sido reconhecido. Me levaram preso dali mesmo”. O estudante contou ainda que foi agredido dentro da Casa de Custódia. “No horário da vistoria, um dos agentes deu um chute nas minhas costas, e teve outro que levou um tapa na cara”, disse.


Alamo de Sousa Ricarte

KEVIN NOGUEIRA FONTES
O estudante do Cefet (Agora IFPI), estava no momento do confronto na avenida Frei Serafim quando foi preso. “Estava sentada do lado da Helena (também presa), quando os policiais vieram pra cima da gente. Eu tentei fugir das balas de borracha que estava sendo atiradas, quando o policial me pegou e saiu me arrastando até a viatura. Ele acabou me batendo, por isso que está desse jeito aqui (mostrando o olho ferido)”. E finalizou afirmando: “mesmo não podendo participar por determinação da justiça, sou totalmente a favor do movimento, mas não poderei mais ir”.


Kevin Nogueira Fontes

MARIA HELENA BEATRIZ

“ME PUXARAM PELOS CABELOS”

Filha da política Lourdes Melo, a jovem contou que também estava sentada na avenida quando foi presa. “Os policiais vieram pra cima de mim, me agredindo, puxando pelo cabelo e me arrastando no chão. Não é à toa que estou toda ferida (mostrando o ferimento no braço”. Na Penitenciária Feminina, ela disse que dormiu no chão, e a noite só não foi pior graças a uma das detentas que lhe emprestou pedaços de pano.


Maria Helena Beatriz

SÁ BATISTA E SOCORRO SANTANA
O primeiro é funcionário da Secretaria de Educação. Ela, servidora do Tribunal de Justiça. Na coletiva, Sá Batista focou em atacar a imprensa e dizer que ela é responsável pelo que a sociedade conhece do movimento. Socorro Santana disse que mesmo tendo sido presa, não vai deixar de participar dos protestos.


Sá Batista e Socorro Santana

FIANÇA MUITO ELEVADA
Ainda na coletiva, a advogada Adoniara Azevedo, do Fórum Estadual de Defesa do Transporte Público, voltou a falar que a prisão dos jovens foi um ato político. “Nos autos de prisão de um dos presos eu questionou o valor aplicado nas fianças, pois no próprio documento para diz que tem que observar a renda das pessoas em seguida vem a consideração de que o próprio delegado geral James Guerra foi quem determinou a fiança inicial de R$ 6 mil que é incompatível com a renda dos presos”, disse.

“Dois deles foram encaminhados para o juiz da 7º vara que entendeu que eles poderiam ser soltos sem pagamento de fiança, os demais estava com juízo na 8ª e 9ª vara por isso os outros seis pagaram os R$ 2 mil cada um, somando R$ 12 mil. Isso caracteriza uma atitude política já que o delegado geral foi indicado pelo governador, a fiança deveria ser estipulada pelo delegado de plantão ou por um juiz”, afirmou. O valor foi pago pelas entidades do Fórum Estadual de Defesa do Transporte Público.

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