Thursday, 13 December 2012

PCC versus o Estado: Uma Guerra de Soma Zero (#Brasil) / PCC versus the State: A Zero-Sum War (#Brazil)


Postado originalmente por o Blog do Tsavkko - The Angry Brazilian em http://www.tsavkko.com.br/2012/12/pcc-versus-o-estado-uma-guerra-de-soma.html

Originally published on the Blog do Tsavkko - The Angry Brazilian at http://www.tsavkko.com.br/2012/12/pcc-versus-o-estado-uma-guerra-de-soma.html


Perto de 200 pessoas, entre uma ampla maioria de civis, foram mortas em menos de um mês de violência extrema na periferia de São Paulo e na região metropolitana - em uma onda de violência que começa a se espalhar pelo interior.

Nearly 200 people, including a large majority of civilians were killed in less than a month of extreme violence on the outskirts of São Paulo and in the metropolitan area - in a wave of violence that has begun to spread inland.

No ano, foram 90 os policiais mortos em serviço ou durante folga.

This year, 90 officers were killed while on and off duty.

Como pano de fundo a queda de braço, mais uma vez, entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e governo do estado, onde as vítimas costumam ser preferencialmente os que nada tem a ver com a superlotação nas prisões, o tráfico de drogas ou as relações perigosas de elementos do governo e a facção.

As background to the conflict between the PCC (First Command of the Capital) and the state government, where the victims are usually preferably those who have nothing to do with overcrowding in prisons, the drug trade relations or dangerous elements of government and other faction.

Esta onda de violência lembra a que tivemos em maio de 2006, que resultou na morte de 41 policiais que "responderam" assassinando 564 pessoas, praticamente todas negras e pobres. A PM admitiu ter matado "apenas" 108 em 10 dias. A maioria dos chamados Crimes de Maio não foram, até hoje, solucionados e nenhum dos responsáveis foi preso. Por sua vez, os familiares das vítimas, em especial as Mães de Maio, lutam por justiça desde então e tem motivos de sobra para temer os recentes ataques.

This wave of violence is reminiscent of what we had in May 2006, which resulted in the death of 41 policemen who "responded" by murdering 564 people, almost all black and poor. The PM admitted killing "only" 108 in 10 days. Most so-called Crimes of May have, to date, not been solved. None of those responsible have been arrested. Meanwhile, the relatives of the victims, especially the Mothers of May, have been fighting for justice ever since and have had plenty of reasons to fear the recent attacks.

São mais de 700 pessoas assassinadas em dois surtos de violência, uma guerra que envolve policiais corruptos, um grupo criminoso com grande força local e uma infinidade de civis pegos no fogo cruzado. Sobre o PCC, sua origem e os crimes de maio de 2006, Débora Silva, fundadora das Mães de Maio, disse em entrevista ao Correio da Cidadania:

More than 700 people have been killed in two outbreaks of violence, a war that involves corrupt cops, a criminal group with significant local force/backing and a multitude of civilians caught in the crossfire. In an interview with Correio da Cidadania, Deborah Smith, founder of the Mothers of May stated teh following about the PCC, its origins and its crimes dating back to May 2006: 

"De forma orquestrada, ele [Alckmin] e o secretário de segurança disseram que o PCC não existia. Como não existia, se foi o poder público que o criou, à base de sua corrupção? Porque o PCC foi criado de dentro dos presídios pra fora, não de fora pra dentro. Se fosse de fora, não iríamos atribuir os crimes de maio à corrupção de Estado. E foi através dessa corrupção que os crimes de maio surgiram, graças a um monstro que o Estado criou e que contra ele se rebelou um dia."

"In  a form of orchestration, he [Alckmin] and the Secretary of Security said that the CCP did not exist. How could it not exist if it was the government that created it, based on their corruption? Because the PCC was created from within the prisons and not from outside the system. Were this different, we would not be able to attribute the Crimes of May to state corruption. Corruption. And it was because of this corruption that the crimes emerged in May, thanks to a monster that was state created the State and rebelled against it one day. "

A mídia, por sua vez, adota o discurso oficial de negar a existência ou a força do PCC, ao mesmo tempo em que não debate a situação carcerária do país, a falida guerra contra as drogas que causa apenas vítimas e pinta um quadro de pobres policiais sendo mortos e "reagindo" à violência. Não se descarta, e isto é discutido mesmo nos meios policiais, que as vitimas policiais não sejam exatamente inocentes, mas queima de arquivo e lião para outros ficarem calados sobre suas relações com o grupo criminoso. Do outro lado, civis são massacrados por bandidos e PM's de forma indiscriminada.

The media, in turn, adopts the official discourse of denying the existence or strength of the PCC, while not debating  the prison situation in the country, the failed war on drugs that create only victims and paint a picture of poor officers being killed and "reacting" to violence. This cannot be ruled out, and this is discussed in the media even police officers that the victims are not exactly innocent, but burning and file Lyons for others keep quiet about their relationship with the criminal group. On the other hand, civilians are massacred by bandits and PM's indiscriminately. (I am not certain about this sentence. Any help here would be appreciated ~ Sofia Smith)

As causas para os recentes casos de violência são vários, mas é impossível deixar de esbarrar em alguns pontos fundamentais, como a própria origem da Polícia Militar e da Rota, instrumentos de repressão criados e usados para "domesticar" as classes pobres, instrumentos de tortura estatal usada de forma indiscriminada contra negros, pobres e pessoas que foram abandonadas pela sociedade. Esta força policial vem sendo usada constantemente na repressão às drogas, na política burra de proibir ao invés de incentivar o consumo consciente e legal.

The causes for the recent violence cases are different, but it is impossible not to touch on a few key points, as the origin of the Polícia Militar e da Rota, as instruments of repression created and used to "tame" the poorer classes. They are state used/implemented instruments of torture used indiscriminately against blacks, and poor people who have been abandoned by society. This police force has been constantly used in drug enforcement. This ban represents political stupidity rather than to encourage conscious and legal consumption.

O PCC nasce como uma resposta a isto e também contra um sistema carcerário que ao invés de recuperar, aprofunda a barreira social e as feridas abertas na sociedade. Neste caldo indigesto ainda convivem policiais corruptos, muitos deles vivendo nas favelas e nas áreas mais pobres, exercendo esta "dupla função" de serem repressores daqueles que, no fim, são parte de sua própria classe.

The PCC is born as a response to this and also against a prison system that instead of recovering, deepens the social barrier and opens wounds in society. In this foggy situation there still coexist corrupt cops, many of them living in slums and poorer areas, exercising this "dual role" of those who were repressors, in order, are part of their own class.

Não é fácil saber ou identificar o real inimigo. Na dúvida, o estado comanda ações repressivas que vitimam exclusivamente os mais pobres ao passo que os que se sentem excluídos revidam de forma violenta - e não é possível esquecer, também, da ação de grupos de extermínio composta por policiais que ajudam a azedar ainda mais a situação. No meio, fica a população, perdida, com medo e acuada. Uma parcela fazendo coro ao estado e exigindo mais repressão e a imensa maioria, presa no fogo cruzado.

It is not easy to know or identify the real enemy. When in doubt, the state runs exclusively repressive actions that victimize the poorest while those who feel excluded retaliate violently - and you can not forget, too, the actions of death squads composed of police officers who help to further deteriorate the situation. In the middle is the population, lost, scared and trapped. A portion echoing the state and requiring more repression and the vast majority, caught in the crossfire.

Em uma situação de exclusão e de ausência do Estado - não enquanto repressor, mas enquanto promotor de políticas sociais -, o caminho fica livre para o surgimento de facções que se beneficiam dessa ausência e do rancor causado, e também o surgimento de milícias, algo que vem sendo importado do Rio de Janeiro e que ajuda também a entender a atual escalada de violência no estado de São Paulo.

In a situation of exclusion and lack of rule - not as repressive, but as a promoter of social policies - the path is free for the emergence of factions who benefit from this absence and the rancor caused. There is also the emergence of militias, something that has been imported from Rio de Janeiro and also helps to understand the current escalation of violence in the state of São Paulo.

A solução para o atual conflito não é simples, pois passa pela própria estrutura do Estado e de suas forças repressivas, por suas políticas no trato das drogas e na exclusão social de outras tantas políticas higienistas. É a forma pela qual o Estado lido não apenas com seus problemas, mas quando lida com sua população como se esta fosse o problema. A exclúi, criminaliza, trata como bandido baseado em sua cor de pele e classe. Acredita ser justo e simples remover populações inteiras a fim de contentar os patrocinadores do Estado - empreiteiras e afins - através de incêndios criminosos em favelas e da expulsão pelo medo e pela força de áreas degradadas para outras piores.

The solution to the current conflict is not simple, as is the very structure of the state and its repressive forces, by their policies in dealing with drugs and social exclusion of many other sanitary policies. It's the way the state not only addresses their problems, but when dealing with their population  it is as if the population is the problem. Excluded, criminalized, treated as villains based on their skin color and class. It is believed to be fair and simple to remove entire populations in order to appease the state sponsors - contractors and the like - through arson in slums and expulsion by fear and force other degraded areas to worse.

Uma solução ao menos inicial para os problemas enfrentados não só por São Paulo, ams pelo Rio e outros estados passaria pela federalização dos crimes contra os direitos humanos, milícias e crimes cometidos por facções criminosas - e especialmente dos crimes cometidos pela polícia contra a população -, mas o que se vê é a total ausência de interesse por parte do governo federal de se incluir no processo.

An initial solution at least for the problems faced not only by São Paulo and Rio and the other states, would be to federalize crimes against human rights crimes committed by militias and criminal gangs - and especially the crimes committed by the police against the people. But what you see instead is the total lack of interest by the federal government to include them in the process.

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